Os shows realizados em pubs ingleses como Camden Brecknock, Catford Saxon Tavern, Nottingham Dutch House e o Ruskin Arms - é, aquele mesmo local que abrigou os primeiros shows do Iron Maiden -, entre maio e junho de 1979, serviram para certificar que o grupo ficaria na linha de frente daquele novo 'boom' do Heavy Metal, a New Wave Of British Heavy Metal. E, convenhamos, se destacar em um cenário repleto de grandes revelações e que também estavam lutando por reconhecimento, como Samson, Witchfynde, Quartz, E.F. Band, Iron Maiden, Saxon e Tygers Of Pan Tang, não era tarefa das mais fáceis.
Os shows seguiram até o final de 1979 mas as coisas começaram a melhorar após a participação no "Friday Rock Show" (BBC). O bom desempenho levou o trio a ter a faixa "Baphomet" incluída na coletânea "Metal For Muthas" (EMI), que ainda trouxe nomes como Iron Maiden, Praying Mantis e Samson. Desta forma, a gravadora EMI resolveu apostar suas fichas e lançou o compacto "Sweet Danger".
Não fosse pela exigência exacerbada da EMI, que achou pouco a 75ª colocação do compacto nos charts e acabou deixando de lado o Angel Witch para assinar com o Iron Maiden, a história do Metal poderia ter sido outra. Porém, o trio não se abateu e seguiu trabalhando da mesma forma, conseguindo um contrato com a Bronze Records, responsável pelos lançamentos do Uriah Heep e Motörhead, para o lançamento do primeiro álbum, "Angel Witch".
Produzido por Martin Smith, o disco saiu em novembro de 1980, apresentando músicas com riffs diretos, palhetadas abafadas, vocais rasgados e melodia na medida certa. O uso dos teclados por Kevin Riddles era um atrativo a mais e combinava com a massa sonora pesada. Como não eram linhas inspiradas no Rock Progressivo, mas em nomes como Uriah Heep, a guitarra pesada e densa sempre se sobressaia, deixando espaço para camas bem colocadas por Riddles, como na instigante faixa-título, com seu início arrebatador e refrão que gruda de imediato.
Curiosamente, Heybourne compôs a faixa "Angel Witch" em 1976, época em que a banda ainda se chamava Lucifer, nome que foi alterado por causa de uma homônima holandesa de Pop fundada em 1972. Mesmo sabendo que o Lucifer holandês havia encerrado as atividades em 1978, Kevin achou por bem alterar o nome para expor a contradição unindo as palavras Angel (anjo) e Witch (no sentido de bruxa). Para reforçar esta tendência, a capa do 'debut' traz uma pintura do inglês John Martin (1789-1854) chamada "The Fallen Angels Entering Pandemonium" ('Paradise Lost', Book 1), que combinou com os temas místicos tratando do ocultismo e da bruxaria.
Musicalmente, o Heavy Metal inspirado, criativo e até certo ponto ousado para a época rendeu elogios. Os riffs da faixa "Atlantis" certamente serviram de base para formações de Thrash Metal, já que é notória a ligação de grupos deste estilo com os da NWOBHM. O disco segue com a trabalhada "White Witch", trazendo palhetadas cavalgadas e abafadas, além de um andamento no refrão que se tornou referência. As vozes dobradas por Heybourne mostravam a preocupação do Angel Witch com os arranjos.
Outro grande destaque é "Confused", que começa com guitarras pesadas, mais uma vez com riffs palhetados, e licks dando um ar mais "macabro" ao som. O refrão vem simples e eficiente, mas o som mostra a versatilidade com diversas mudanças de andamento e quebras de ritmo.
A faixa "Sorcerers" chega a lembrar o estilo de "Remember Tomorrow" (Iron Maiden), mas a inclusão dos teclados no final remete ligeiramente ao Deep Purple. Outra que começa melódica e com cara de balada é "Gorgon", que depois descamba para o Metal Tradicional.
A acelerada "Sweet Danger" traz algumas guitarras 'maidenianas', enquanto a 'quase balada' "Free Man" mostra o lado mais melódico do grupo. O peso e o lado obscuro retornam com a from hell "Angel Of Death", mais uma que teve seu andamento copiado por seguidores. O álbum se encerra com a instrumental 'épica' "Devil's Tower".
Pouco depois da turnê de promoção, o Angel Witch iniciaria uma fase importante de sua carreira, mas a saída de Day Hogg - substituído por Dave Dufort (irmão de Denise, do Girlschool, e ex- E.F. Band) foi o princípio do fim. A nova formação gravou apenas um EP, "Loser", e ao final de 1981 se dissolveu. Skids e Dave Dufort formaram o Tytan e Heybourne se juntou ao Deep Machine.
Mesmo com uma conturbada história pelas constantes mudanças na formação, a importância do Angel Witch para o Heavy Metal é inquestionável. No ano passado, a música homônima entrou na trilha do game "Brütal Legend". Sendo assim, fica aquela sensação de que embora tenha seu merecido espaço por ter lançado um dos grandes álbuns de estreia, atuou como um piloto de Fórmula 1 que marca a pole position, lidera metade prova e sai da corrida melancolicamente com um pneu furado.
O que fazem hoje?
Kevin Heybourne (vocal e guitarra): Entre idas e vindas no Angel Witch, atuou no Tytan e Blind Fury. Chegou a morar nos EUA, mas foi obrigando a voltar para a Inglaterra após ser pego pela imigração. Tenta até hoje a duras penas manter o legado da banda, que atualmente conta com Will Palmer (baixo) e Andrew Prestidge (bateria).
Kevin "Skids" Riddles (baixo e teclado): Após o Tytan, sumiu de cena.
Dave Hogg (bateria): Trabalha como produtor e dá aulas de bateria.
Confira o repertório do álbum:
01. Angel Witch
02. Atlantis
03. White Witch
04. Confused
05. Sorcerers
06. Gorgon
07. Sweet Danger
08. Free Man
09. Angel of Death
10. Devil's Tower
fonte: rock online
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